PetroPET – Programa de Educação Tutorial em Engenharia de Petróleo

HSE na indústria petrolífera: visão geral do desafio em busca da evolução

Historicamente, as práticas que tinham como objetivo evitar ou mitigar acidentes no ambiente de trabalho foram denominadas de “safety culture”, termo que surgiu na década de 80 após o acidente nuclear de Chernobyl, ilustrado na Figura 1. Desde então, muito se discutiu sobre o tema, com a maioria destas conversas chegando à conclusão de que o gerenciamento e prevenção poderiam ser tidos como fatores base.

Figura 1 – Destroços do Acidente Chernobyl
Fonte – Revista IstoÉ

Visto isso, posteriormente incluindo também nas pautas a preocupação relacionada à saúde ocupacional, ao local de trabalho e à interação social e ambiental dos envolvidos, o termo “safety culture” converge para o HSE (health, safety and environment). Hoje, se fala muito na necessidade de evolução do HSE, com diversas inovações sendo propostas e discutidas.

Figura 2 – Ilustração sobre o que engloba o HSE
Fonte – blog.veigagestao.com.br

Contudo, mesmo com debates recorrentes nos dias atuais consolidando diretrizes que servem como parâmetros através das agências reguladoras, a definição precisa do que compõe o HSE não é unificada, pois ao longo do tempo percebe-se que o HSE está diretamente ligado com o conceito de cultura organizacional das empresas. A ideia de cultura influencia em vários campos, principalmente nas atitudes de membros de um grupo, sendo um fenômeno social complexo de se analisar de forma exata. Alguns pontos utilizados como base na construção de uma cultura organizacional são ilustrados na figura 3.

Figura 3 – Exemplo de base para mudanças na cultura organizacional
Fonte: https://mereo.com/blog/cultura-organizacional/

A consequência disso é que as atitudes ligadas ao HSE podem mudar muito conforme a empresa e ainda, curiosamente, mudar entre funcionários do mesmo empreendimento, devido à diferença de nível do ‘iceberg’ e perspectiva. Tendo isto em vista, percebe-se que um dos grandes desafios ligados ao HSE, antes mesmo de falar em evolução, é sua consolidação e unificação de entendimento na própria empresa.

Visto isso, é interessante observar um caso de estudo proposto por um grupo de pesquisa em uma grande companhia norueguesa, que entrevistou 31 funcionários, dentre eles gestores de HSE, gestores de processos, técnicos de segurança e funcionários de operações ‘offshore’ como perfuração, manutenção, entre outros (HØIVIK et al., 2009). As perguntas que foram objeto de estudo se tratavam de:

  • Como os trabalhadores conceituam HSE e quais aspectos eles entendem como importantes para descrever o conceito?
  • Funcionários com e sem posição de liderança conceituam HSE de forma diferente?

O que chamou mais atenção nas respostas foi a diferença de perspectiva ligada à atribuição do funcionário. Os gestores de HSE deram respostas concisas englobando as partes importantes da ideia, um exemplo foi:

“A cultura de HSE é praticamente tudo. Na nossa empresa ela engloba desde gestores executando bem suas funções e isso refletindo no individual de cada um; é também qualidade nos requerimentos e processos. Os gestores se sentem no dever de serem exemplos nas tarefas e cuidar no desempenho e engajamento dos seus grupos, assim como de um ambiente de trabalho saudável”.

Entretanto, os funcionários responsáveis por outras atribuições deram respostas que não corroboraram com as opiniões do time de HSE, o exemplo que melhor resume a maior parte foi:

“Na nossa empresa, cultura de HSE se refere a executar as atividades ‘offshore’ com segurança”.

Esta resposta, reflete a disseminação entre a maioria dos funcionários de uma ideia de HSE que não contempla o cuidado com os funcionários e com o ambiente, dando a entender que o tem mais valor são as operações de produção. Muitas outras respostas reforçaram esse pensamento.

A principal motivação em trazer a análise deste estudo se encontra na seguinte conclusão: pode-se dizer que para o HSE chegar a um novo nível de desenvolvimento, antes das empresas e agências reguladoras buscarem chegar a um consenso macro das conceituações, o mais importante é que o micro esteja consolidado, ou seja, cada grupo individual de empreendimento tenha as ideias disseminadas de forma estrutural e ampla, assim como estas sejam utilizadas na prática. O pensamento de discutir mudanças na definição antes mesmo de realizar o básico de forma efetiva é algo que deve ser refletido pelos gestores dos empreendimentos.  

Referências:

HØIVIK, Dordi; MOEN, Bente E.; MEARNS, Kathryn; HAUKELID, Knut. An explorative study of health, safety and environment culture in a Norwegian petroleum company. Safety Science, [S. l.], v. 47, n. 7, p. 992–1001, 2009. DOI: 10.1016/j.ssci.2008.11.003. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.ssci.2008.11.003.

Autor: Messias Gutemberg

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